top of page
Mar Aberto

[poetics]

 

2021

 

collaboration for Re_vista 003,

edited by Museo Experimental El Eco

[available only in portuguese and spanish]

Embora faça menos de um ano, o mês de março de 2020 parece agora um passado distante. Foi precisamente no dia 17, uma terça-feira, que o maremoto da pandemia de Covid-19 me atingiu pessoalmente. Eu estava na montagem de uma grande exposição para a qual havia desenvolvido o projeto de arquitetura. Ainda pela manhã, os coordenadores das equipes que ali estavam convocamos uma reunião, onde decidimos, por unanimidade, suspender os trabalhos. Quase imediatamente deixamos o local sem saber quando voltaríamos, como se uma sirene de evacuação tivesse sido acionada. Para trás deixamos uma exposição inacabada: painéis, vitrines e outros elementos expositivos à espera das obras de arte que, naquele momento ainda não sabíamos, só seriam instaladas muitos meses depois. Esta imagem de uma exposição fantasma, cristalizada em uma fotografia tirada neste dia pela minha sócia no projeto, representa bem o estado de suspensão que se instalaria na minha vida nos meses seguintes.

 

Fruto de um corpo maior, a seleção de 170 imagens a seguir foi coletada neste momento específico: os primeiros meses da pandemia de Covid-19, quando o tempo se dilatou, a realidade virtual se confundiu com a real e todo o planeta, ainda que de formas diferentes, se viu em meio a um oceano de incertezas sanitárias, econômicas e sociais. O conjunto abaixo é portanto um retrato da paisagem esquizofrênica desse momento: rostos pixelados, mensagens robotizadas, notícias, memes, capturas de tela, fotografias de situações diárias e assuntos dos mais variados se misturam, sem hierarquia definida. O tempo linear já não se aplica. Às imagens de um cotidiano confinado e hiperdigitalizado somam-se registros de expedições pela cidade esvaziada, num momento em que São Paulo estava deserta e silenciosa e isso era muito impressionante. 

Entre questionamentos profissionais e existenciais, intoxicação política e overdose digital, essas imagens são também o registro de uma deriva. Um tempo de observação, de descompasso, de buscas, revisões, desencontros e descobertas, de silêncios e de gritos mudos, em que as perguntas que foram formuladas ainda seguem à espera de respostas.

helena cavalheiro . in between art and architecture . ©2024  

bottom of page